30 de jun. de 2009

Ser um líder depende de treino e observação

As faculdades nem sempre cumprem o papel de formadoras de líderes, profissionais capazes de gerenciar equipes e desenvolver talentos e habilidades. Há quem defenda que essa função nem cabe aos cursos de graduação. Para Francisco Ramirez, professor de gestão de pessoas do Insper - Instituto de Ensino e Pesquisa, o curso de administração de empresas, por exemplo, busca dotar os alunos de conhecimentos de gestão, mas não necessariamente de ferramentas de gestão. "Ainda que ensine as técnicas, há um ponto essencial que só pode ser apreendido depois de alguma experiência profissional", afirma.

Veja como desenvolver a liderança:
- Aproveite as oportunidades de liderar grupos de trabalho na faculdade. Tome como base a educação e os princípios familiares
- Na empresa, não deixe de assumir tarefas da equipe que dependam de seus conhecimentos
- Tenha humildade de aprender com os seus próprios erros e também com os exemplos de seus gestores
- Nunca deixe de buscar conhecimento e atualização na universidade, por meio da pós-graduação
- Não tenha medo de passar seus conhecimentos adiante. O ato de ensinar ensina muito sobre liderança

Ele se refere à capacidade de liderança de um profissional, que só poderia ser desenvolvida a partir da prática. "Os primeiros passos da graduação são para o ensino de técnicas, conhecimentos técnico-científicos. No entanto, nada disso é suficiente para aprender sobre liderança, que se aprende mais pela vivência", acredita ele. Alfredo Assumpção, mestre em gerência de recursos humanos e autor do livro "Fraldas Corporativas - Desenvolvendo hoje o líder de amanhã", também acredita na experiência prática. "Todo o processo de formação de liderança se baseia na formação de consciência profissional", diz ele.

De acordo com Ramirez, o processo de desenvolvimento das características de liderança não tem nada de novo. "A liderança, tal qual a um século atrás, se faz a partir do aprendizado de cada dia. As escolas de administração nos permitem empacotar um grande volume de conhecimentos, mas é fundamental entender que quem quer ser líder tem de se dispor a aprender durante toda a vida", declara ele. Ramirez conta que há alunos com sessenta anos que voltam à universidade para revigorar conhecimentos e aprimorar boas práticas.

Segundo Ramirez, é a partir do repertório adquirido na faculdade, no entanto, que o jovem profissional vai desenvolver as características de liderança e, somente a partir da pós-graduação, direcionar o aprendizado para aprimoramento das técnicas de liderança. "O exercício da gestão de pessoas e de empresas vai além de saber operar bem essas técnicas. É preciso aprender conceitos de natureza comportamental", diz Ramirez. Ele conta ainda que algumas das tarefas técnicas podem até mesmo ser resolvidas com máquinas. "A faculdade pode contribuir com programas de pós-graduação e de mestrado. Por isso é importante continuar a estudar. Não são vistas mais técnicas administrativas, mas sim de gestão e exercício de liderança. São programas de natureza quase comportamental", explica ele.

Nesse contexto de aprendizado por meio da prática, o papel da empresa passa a ser fundamental para a formação do jovem profissional. A afirmação é de Assumpção, que alerta para a importância da atitude por parte do estagiário ou trainee. "Não basta competir e ter bom desempenho, mas saber interagir com pessoas. É muito mais difícil desenvolver um líder do que um técnico", destaca ele. Assumpção refere-se às diferenças entre o ambiente acadêmico e o corporativo. "O mundo acadêmico é colaborativo e o corporativo é competitivo. Então, o jovem chega totalmente despreparado e, se não souber interagir, não vai ter colaboração como no mundo acadêmico. O grande erro do jovem é achar que o mundo corporativo é extensão do mundo acadêmico", alerta ele.

Por isso, assegura Assumpção, é importante aproveitar as chances de exercer a liderança. "Em algum momento, o jovem vai exercer liderança. Não importa o organograma, mas quem efetivamente domina determinada questão e que vai liderar a equipe nos momentos em que ela depender de suas habilidades", afirma ele. Assumpção reconhece que isso é mais difícil para estagiários, que estão na base da pirâmide, mas que aproveitar as oportunidades depende da personalidade de cada um. "Tendo conhecimento de causa, as pessoas vão recorrer a ele quando precisarem e, em determinado momento, ele vai ser líder. É a liderança da competência", acrescenta.

Nesses momentos, Ramirez afirma que é importante que o jovem profissional contrarie a tendência de guardar para si os conhecimentos. "Nas empresas, é natural que as pessoas queiram guardar os próprios conhecimentos, mas o melhor que alguém pode fazer para ser líder é ensinar", garante ele. No mesmo sentido vai a opinião de Assumpção. "Quando todos estão para servir, você consegue montar um time de verdade e usar plenamente toda a capacidade do capital humano instalado", diz o escritor.

Quando o momento é de ser liderado, Ramirez também recomenda humildade para melhorar o aprendizado. "Quando se comete um erro tem de aprender com ele para evitar errar novamente. Sobretudo, é importante ter humildade de aprender com os outros", conta ele ao afirmar que é na própria empresa que serão dadas as primeiras responsabilidades de gestão.

Já Maria Cristina Bohnenberger, coordenadora do curso de gestão de recursos humanos da Feevale, acredita que os exercícios de liderança começam na própria faculdade, ao coordenar grupos de trabalho acadêmicos. "O estagiário pode exercer liderança em sala de aula, puxar a frente e motivar os colegas com os mesmos recursos que ele vai usar na vida corporativa", exemplifica ela. Para tanto, Maria Cristina afirma que o estudante pode tomar como base a educação que recebeu ao longo da vida. "As atitudes são muito naturais e adquiridas por meio da educação familiar", explica em relação aos atributos necessários a um líder.

Fonte: Universia

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